A VOVOZINHA E O LOBO MAU!
Jovem, não mais que 25 anos, rapaz loiro, magro de bairro classe média alta, entra no carro.
Nem bem se acomodou e foi dizendo que precisaria levar um dinheiro à casa de sua avó.
Em tempos em que os jovens parecem ser preocupar cada vez menos com os mais velhos, aquele discurso trazia um alento.
Exceção feita ao meu filho Henrique, que conta a vida em menos de 5 minutos para os motoristas, nenhum outro passageiro fala sobre seu destino.
Percurso curto.
Me aproximava de uma comunidade tida como perigosa aqui no ABC.
Eu só pedia a Deus para que o endereço final, não fosse lá dentro.
Quem acha que o meu pedido foi atendido levante a mão!
Ao menos, estava entrando ali, pela primeira vez, ainda durante o dia.
Tarde de céu muito azul.
Vielas estreitas, como as de cidades medievais europeias, onde os carros quase deixam seus espelhos retrovisores nas paredes!
É a única semelhança com países de primeiro mundo.
A oração agora, era para que não viesse nenhum outro veículo no sentido contrário.
Acho que Deus estava de mal de mim naquele dia!
É uma cidade dentro de um bairro.
Surreal!
Me perguntei em pensamento, em que condições moraria a pobre senhora que estava merecendo atenção de seu neto?
O rapaz desce do carro, pede que eu o aguarde e segue.
Aguardar? Ali? Tá de brincadeira né? – pensei.
Tirei o terço do porta luvas e comecei tudo de novo...
Há cerca de 20 metros, vejo uma adolescente grávida, usando um shortinho vermelho e um tomara que não caia evidenciando ainda mais sua condição de gestante.
- Aeêê “tio”! Tá procurando alguém??? – gritou enquanto saltava de cima de um pequeno muro.
Até onde eu soubesse, eu não tinha sobrinhas.
Mas, se quisesse continuar vivo, era melhor fazer parte da família!
- Boa tarde querida! Estou esperando o meu amigo que foi até a casa da avó e já volta.
- Ahhh tá! Deu meia volta e se foi.
Se ela me indicasse um vendedor de cuecas, não seria de todo ruim.
Foi então que percebi onde estava metido. A dívida daquele rapaz, não era com a vovozinha, mas com o Lobo Mau!
Se entrar ali foi tenso, sair foi um alívio inenarrável.
Depois dessa, muitas outras comunidades visitei na sequência.
E diante da chatice do mundo, um esclarecimento se faz necessário.
Óbvio que eu não fico totalmente tranquilo ao entrar nesses locais, mesmo sabendo que, em sua maioria, são pessoas do bem que ali habitam. O perigo está na minoria, que se impõe, frente à incompetência, ineficiência e conivência do Poder Público.
Preciso dizer entretanto, que em todas as comunidades que já estive, (ainda) não houve um problema sequer.
Até porque, os maiores bandidos deste país, usam terno, gravata e obtém poderes concedidos por nós e o nosso voto.
Manobrar o carro por tantas vielas foi o único inconveniente.