A BRIGA DO SÉCULO!

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A Briga do Século!



Se chegar em casa chorando outra vez, vai apanhar!

Ou seja, não bastava ter levado uma surra, o choro me “bonificaria” a tomar outra.

Mas tudo bem, sabemos que nos anos 70 as informações sobre como educar os filhos, eram menos acessíveis.


- O Piquy te bateu outra vez? Então você vai bater nele!

Eu sei que mães tem o sexto sentido aguçadíssimo, mas de onde ela tirou essa certeza, meu Pai Eterno?

Se eu tivesse que apostar o salário de uma vida, apostaria nele.

Chorei mais ainda.


- Você vai esperar ele aqui em frente de casa – decretou a minha “Don King” de saias.

Eu estava me sentindo como o Corinthians, apanha fora de casa, apanha em seus domínios e ainda apanha da torcida...


Ficamos em frente ao portão esperando o meu algoz apontar na esquina...

Ele estava demorando.

Por sorte teria saído da escola e ido pra Europa visitar uma tia, quem sabe?

De repente, um avental branco surge lá na entrada da rua.


Putz! Se eu morasse pra cima da casa dele seria tão “mais melhor”, ele não passaria em frente à minha ...

Pensamentos efervesciam:

- Bem, amanhã pelo menos ela não vai me mandar pra es...

- E nem pense em ficar em casa amanhã! Você vai pra escola, não tem que ter medo de sair pra rua.

Como se não bastasse, adivinhava pensamentos também.


- Tá bom, se a vida permitir meu caminhar... – não, isso eu não falei. Não havia despertado ainda um olhar poético pro mundo.

Eu só pensava na minha destruição total.


Quando se é criança, não se briga por ódio ou inimizade.

Busca-se marcar uma posição no grupo, ter aceitação ou coisa do gênero.

Como eu disse na primeira crônica, fui o último a chegar na turma e o primeiro a me mudar da vila, obviamente, o alvo perfeito nos primeiros anos.


A enfermeira se aproximando para aplicar injeção, o obturador do dentista se aproximando da minha boca, o professor se aproximando da carteira com o resultado da prova...

Era o Piquy, se aproximando do local da briga sem nem ter sido convidado.


- Piquy, você bateu nele? – mãe! Pra que entrevista-lo, bem aqui?

À essa altura, já havia uma boa dezena de pessoas ao redor, ávidas por ouvir a resposta e, na sequência assistir ao massacre.

- Sim – respondeu ele com convicção.

Que humilhação!

Não me lembro da voz de comando de mamãe, só sei que obedeci!

Fui pra cima dele, com as 2 mãos, como quem no desespero, se defende de uma nuvem de fumaça.

Dei uma, tomei duas, dei duas, tomei outra. Rolamos no chão, que ainda era paralelepípedo!

Minha mãe, agora árbitra, percebendo que o nível de energia dos lutadores já estava no fim para um deles, decidiu acabar com o circo.


Na violência, não há ganhadores.

Creio nisso!

Mas aqui foi diferente.

Ganhei o respeito dele, ele ganhou o meu, fortaleceu nossa amizade.

Eu perdi o medo de me defender, descobri que era capaz de bater também.

Aquela foi a primeira e única briga de mão da minha vida.


Meus pais me ensinaram que eu nunca deveria iniciar uma briga, mas se apanhasse, deveria revidar.

Não precisei desse ensinamento, mas passo adiante aos meus filhos.

Paradoxalmente, ser bunda mole hoje em dia é ser corajoso.

Não vale à pena ser “galinho de briga”.

Os acertos de conta se dão pela pólvora, não mais pelas mãos.


Feliz Dia do Amigo!

Pra quem é, pra quem já foi, pra quem achou que não tivesse e pra quem ainda vai ter!


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