DO OUTRO LADO DO MURO
Dias de sol na Escola Emílio Carlos são sempre assim!
Meninos e meninas brincam de bola.
Não raro, alguém com chute potente, manda a redonda para o estacionamento do meu condomínio.
Segundo ex-companheiros de profissão, Pelé “tinha mais dois olhos” ao redor da cabeça, pois fazia jogadas em espaços que só ele poderia enxergar. Só o Pelé era capaz de enxergar aquilo que ninguém via!
Me desculpem mas não era só Pelé!
Dona Ana Maria também!
- Feche essa janela agora e volte a estudar, ou eu vou trancar você neste quartinho!
Mamãe antevia as jogadas, como o Pelé!
O quartinho ao qual se referia, era um apêndice do nosso sobrado.
A cozinha era o lugar com pouca visibilidade externa e mamãe estava lá, quando me advertiu!
Mamãe era gênio!
Ela sabia que eu estava de olho no quintal observando a bola parada pedindo: “me chuta, me chuta, me chuta!”
Da janela do quartinho, visão privilegiada!
Podia ver o exato momento em que Douglas, Rubens, Piquy e o Celso, corriam em desatino depois de ouvir os gritos da “miss simpatia”:
- Eeeellleee vaaaai estudaaaaaaar!!!!
Intervenções como essa da dona Ana Maria, me causaram sérios problemas na carreira futebolística.
Ficar no banco de reservas, de um time que está com um jogador a menos, foi a mais pesada das retaliações!
Passado o longa metragem na minha mente, vejo que depois de tantos anos, estou sentado à escrivaninha, tendo minha atenção roubada, pelo mesmo objeto que me roubava a atenção dos estudos.
Mas hoje, eu pude parar o meu trabalho, descer até o estacionamento e jogar a bola para o outro lado do muro.
Ahhh garotada da Emílio Carlos!
Como é bom ter pais que nos fazem marcação cerrada!
Como é bom ouvir o alarido de vocês!
Como é bom ser criança, como vocês!